sábado, 19 de março de 2011

Se todo mundo sambasse...


 "Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver"
Chico Buarque

Dois vira-latas, uma cadelinha fugida de casa, um ursíssimo fugido do zoológico e um coelho abandonado não uma, mas duas vezes. De cortar o coração, né não? Não. Não em “Os Colegas” da escritora Lygia Bojunga.
Os primeiros que iniciaram esse bando sem igual foram os vira-latas Virinha e Latinha. Que, aliás, nem sabiam que eram vira-latas, apenas adotaram esses nomes porque em todo o lugar ouviam a mesma coisa: “Sai daí, seu vira-lata! Olha um vira-lata no jardim!” Depois apareceu Flor-de-lis, uma cachorrinha de raça, fina mesmo, sabe? Fugida da dona que a enfeitava mais que árvore de natal. O Ursíssimo Voz – de – cristal – que tinha esse nome pela sua voz fininha que nem alfinete -  também estava fugido, só que do zoológico. Queria ver as bonitezas do mundo. Por último, mas não menos importante: Cara-de-pau. Um coelho que foi abandonado pela família – duas vezes – e nunca, em hipótese alguma, sorria.
Regidos por muito samba e alegria os amigos inseparáveis, apesar de tantas desventuras e perigos que correm diariamente, nunca deixam a peteca cair. À margem da vida os colegas vão consolidando seu próprio espaço e identidade. E, neste espaço relações como amizade, solidariedade e trabalho vão sendo construídas a partir de valores criados pelo grupo. E a linguagem informal, solta - bacana de verdade - torna a leitura fluída, harmoniosa, com gostinho de samba mesmo.
Impossível não apaixonar-se por essa leitura envolvente e cheia de cadência. Afinal, não é tão feio como dizem esse tal de mundo cão.

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