domingo, 27 de março de 2011

amar-elo

meu amor é amarelo.
sujo e doente.

tem a cor do pus que escorre
e resseca logo abaixo da ferida.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Aos escrevinhadores de plantão

Estão abertas as inscrições para o Prêmio Off Flip de Literatura 2011. Fica o link da premiação com o regulamento e maiores informações:
http://www.premio-offflip.net/

Alea jacta est!

sábado, 19 de março de 2011

...e por isso cinema me encanta.

Se todo mundo sambasse...


 "Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver"
Chico Buarque

Dois vira-latas, uma cadelinha fugida de casa, um ursíssimo fugido do zoológico e um coelho abandonado não uma, mas duas vezes. De cortar o coração, né não? Não. Não em “Os Colegas” da escritora Lygia Bojunga.
Os primeiros que iniciaram esse bando sem igual foram os vira-latas Virinha e Latinha. Que, aliás, nem sabiam que eram vira-latas, apenas adotaram esses nomes porque em todo o lugar ouviam a mesma coisa: “Sai daí, seu vira-lata! Olha um vira-lata no jardim!” Depois apareceu Flor-de-lis, uma cachorrinha de raça, fina mesmo, sabe? Fugida da dona que a enfeitava mais que árvore de natal. O Ursíssimo Voz – de – cristal – que tinha esse nome pela sua voz fininha que nem alfinete -  também estava fugido, só que do zoológico. Queria ver as bonitezas do mundo. Por último, mas não menos importante: Cara-de-pau. Um coelho que foi abandonado pela família – duas vezes – e nunca, em hipótese alguma, sorria.
Regidos por muito samba e alegria os amigos inseparáveis, apesar de tantas desventuras e perigos que correm diariamente, nunca deixam a peteca cair. À margem da vida os colegas vão consolidando seu próprio espaço e identidade. E, neste espaço relações como amizade, solidariedade e trabalho vão sendo construídas a partir de valores criados pelo grupo. E a linguagem informal, solta - bacana de verdade - torna a leitura fluída, harmoniosa, com gostinho de samba mesmo.
Impossível não apaixonar-se por essa leitura envolvente e cheia de cadência. Afinal, não é tão feio como dizem esse tal de mundo cão.

sexta-feira, 18 de março de 2011

E de paixão é que a gente se alimenta...



E antes que eu disse não, chegou Bethânia me cantando "Teresinha" de Chico Buarque,


O primeiro me chegou como quem vem do florista

Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista

Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha

Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha

Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração

Mas não me negava nada, e assustada, eu disse não


O segundo me chegou como quem chega do bar

Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar

Indagou o meu passado e cheirou minha comida

Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida

Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração

Mas não me entregava nada, e assustada, eu disse não


O terceiro me chegou como quem chega do nada

Ele não me trouxe nada também nada perguntou

Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer

Se deitou na minha cama e me chama de mulher

Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não

Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração



segunda-feira, 14 de março de 2011

Relato

Vira e mexe minha mãe resgata - não sem certa nostalgia - histórias acontecidas em seu tempo de infância que me tocam de uma maneira muito profunda. Mas há uma delas em especial que gostaria de dividir, assim como ela entregou-a a mim  - por que contar histórias é doar-se ao outro: 

"Quando a gente era pequeno era muita pobreza. Mal tínhamos o que comer, que dirá o que vestir. No inverno íamos para a escola, que era  uma casinha muito pequena e velha que Dona Mariquinha transformou numa escolinha, não tinhamos nada quente para calçar nem vestir. Ficávamos com os dedinhos roxos de tanto frio que fazia. Então, quando chegavamos na sala D. Mariquinha  estava nos esperando com um prato cheio de bolinhos e um panelão de leite quente. Nós comíamos - era uma delícia - e depois ela nos esquentava passava a mão quentinha nos nossos pés pra sair o gelado e só depois íamos pra sala de aula. Mas não pensa que ela era boazinha na sala, não senhora! Mas o que ela fez pela por nós nunca vou esquecer."
Maria Olina Duarte, 55 anos, minha mãe, artesã, contadora de histórias e mulher.

Me diga, antes de tudo, de todas as práticas pedagógicas que a acadêmia nos ensina, o que é, de fato, ser professor?

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ô abre alas!

Para inaugurar este espaço, alguns dizeres sobre uma leitura da qual me encantei a um ano atrás, e continuo me apaixonando cada vez mais.

Um rastro de esperança        

     
              Muito mais do que revisitar um clássico da literatura universal Ruth Rocha nos apresenta em Romeu e Julieta – ilustrações de Cláudio Martins - uma história de igualdade, de enxergar o outro.

              No livro presenciamos a história de duas borboletinhas que vivem em canteiros separados. Romeu vive no canteiro azul, Julieta no amarelo. Até que um amigo em comum, Ventinho, os apresenta e não dá outra: amizade à primeira vista. E como conhecemos esta história de longa data sabemos que nada favorecia esta amizade. Porém certo dia passeando pela floresta os amigos se perdem , e vivem muitas aventuras – divertidas e assustadoras.  As borboletas, os vagalumes, todas as flores e amigos se reúnem em uma grande busca para salvar Romeu, Julieta e Ventinho. As diferenças deixadas de lado e os laços se fortalecem por algo maior. E é aí que está a força desta narrativa. A individualidade de cada personagem não se perde no coletivo, ao contrário suas peculiaridades enriquecem esta união.

            A delicadeza das ilustrações comungam com o texto de maneira tão harmoniosa que esta deliciosa história de amizade nos desperta algo de muito humano. Certamente o leitor de Romeu e Julieta passará a ler o mundo com os olhos inquietos de quem ainda tem um rastro de esperança.

ROCHA, Ruth. Romeu e Julieta. Ilust. Cláudio Martins. Ática, 2000.